13 de julho de 2007

Zé do Conhame - o Buarcos social

Oh 'migos e 'migas, primos e primas, vamos lá esclarecer uma coisa: quer vocês queiram, quer não, vocês são todos meus primos e primas ou 'migos e 'migas, pruque em Buarcos não há cá misturas: ou se é 'migo/'miga ou se é primo/prima. Lá no tempos dos faraós do Egiptrio das Pirâmidas havia aquelas hierarquias sociais. Pois cá em Buarcos acontece a mesmíssima coisa: há os primos e as primas, tudo sangue do mesmo sangue e há os 'migos e 'migas, tudo carne com unha e unha com carne. Depois também podem haver os cachopos e cachopas - o mesmo é dizer 'tchopos e 'tchopas, que são os catraios mais novos. Depois há as Celestes, as Sãos (ou Sões), as Rosas, os Manéis (ou Manueles), os Zés (como eu), os Quins, os Joãos (ou Joões) e os Tós (ou Tozes).

Dentro da faixa dos primos/primas, 'migos/'migas e 'tchopos/'tchopas é que se encontram as Celestes, as Sãos/Sões, as Rosas, os Manéis/Manueles, os Zés, os Quins, os Joãos/Joões e os Tós/Tozes, ou seja, os primos/primas, 'migos/'migas e 'tchopos/'tchopas são grupos principais que se subdividem em grupos secundários.

Claro que depois cada família tem uma alcunha que passa de geração em geração, tipo segredo de culinária secular, ou jóias de família, ou até mesmo como os álbuns de fotografias. Normalmente, em cada família genuína buarcosense há-de haver sempre alguém, vivo ou morto, que:

- foi à 1.ª Guerra Mundial;
- foi à pesca do bacalhau nos mares do Norte;
- foi à Guerra Colonial;
- tem uma tatuagem do "Amor de Mãe";
- tem uma cana de pesca na garagem, mesmo que nunca tenha sido usada;
- tem uma casa com azulejos ou mosaicos de casa de banho nas paredes exteriores de casa;
- tem um cão rafeiro preso no quintal, com uma corrente de ferro de metro e meio, há mais de 10 anos; - tem as paredes exteriores da casa pintadas com uma cor bem fatela;
- tem molduras nas paredes da sala de estar e jantar com certificados de participação em excursões de autocarro a todos os sítios possíveis e imagináveis;
- tem o hábito de ir para os largos conspirar contra tudo e todos com os amigos;
- tem álbuns de fotografias e recortes de jornal do Rancho das Cantarinhas de Buarcos (um dos melhores ranchos folclóricos que existem, agora fora de brincadeiras);
- tem os troféus dos torneios de pesca do Caras Direitas e da Rádio Clube Foz do Mondego expostos em local privilegiado da sua casa;
- tem o hábito de pôr cunhas debaixo das portas, mesmo que não estejam lá a fazer nada;
- tem um automóvel da década de 80 ou do início da década de 90 (século XX) guardado na garagem e que só sai de casa uma vez por mês para ir ao supermercado fazer as compras mensais;
- só vai à igreja para ir a funerais;
- só sai de um raio de 200 metros do exterior da sua casa quando necessita de ir ao centro de saúde, visitar alguém ao lar ou fazer alguma coisa que não esteja acessível no tal raio de acção;
- tem casas ou quartos para arrendar aos banhistas, no Verão;
- só vê, somente, apenas, exclusivamente, o canal 1 da RTP, especialmente a Praça da Alegria, os telejornais, a novela da hora a seguir ao almoço e os concursos onde acham piada aos que lá vão ganhar dinheiro;
- almoça ao meio-dia e janta às 7 da tarde;
- que é sócio do Caras Direitas ou da União Foot-ball de Buarcos;

Caro leitor, como pode ver não é fácil ser-se buarcosense. Eu cá já só tenho primas, primos, 'migos, 'migos, 'tchopos e 'tchopos. O meu pai morreu na Guerra Colonial, a minha mãe morreu de desgosto de eu não ter uma tatuagem do amor de mãe. Sentiu-se traída. Portantos, sou órfão total. Ainda consta que tenho um irmão, mas isso deve ser boato, pruque se eu tivesse irmãos já os tinha topado pelo cheiro. Tios, tias, avós, padrinhos, madrinhas não tenho, porque em Buarcos só há primos e primas.

Portantos, resta-me o Pirolito, o meu fiel e viril ser canino que ainda vai sendo o meu sustento, quando consegue roubar uns peixitos do mercado e uns restos de carne no Talho. De resto, ainda vou jogando o Totoloto. Sempre dá jeito saber tocar pífaro - ponho-me a tocar à porta do Mercado, só cuma mão, enfio um braço pra dentro da camisa, toco umas rapsódias bem esgalhadas e farto-me de ganhar moedas. O pessoal gosta mesmo, ou então dá-me aquilo para eu tar calado. Ou então é porque gostam do canito, que fica lá ao meu lado com o cestito para as moedas na boca.

Vá, fica um abraço para vocemecês todos, meus caros visitantes e agora vou até à Junta ver se chegou alguma carta aqui pró Alcaide-mor!

3 comentários:

Paulo Dâmaso disse...

E confia em mim, o Pirolito é o teu melhor ´migo...

E olha a minha mãe fez o mesmo, matou-se por causa da maldita tatuagem. Em vez do famoso "amor de mãe" tatuei uma em que dizia "mãe só há uma, a do Zé Conhame mais nenhum".

Sabes o que ela fez, sabes?
Tchapou-se ao mar, vê lá tu!

Vanessa disse...

Bem-vindo Zé.
Fico à espera de saber mais novidades sobre si e sobre Buarcos.

Um abraço primaço!

lol

Anónimo disse...

Eh Zé, vai dar banho ao cão...