21 de julho de 2007

Dia Santo

A Avenida do Brasil, hoje virou sambódromo! Foi um dia de folia, de muita dança e de muita gente que deve ter estado ligada a um poste de alta tensão da EDP, na noite anterior... para ter aquela electricidade toda! Era quem mais se abanava. Cá na minha, o samba é uma coisa que é para ser feita em jejum, não vá a digestão parar com tanto movimento. Acho que qualquer naco de carne que esteja no estômago de um "sambista" fica completamente tonto quando começa o festival. Dentro daqueles estômagos, caso estejam cheios, há mesmo uma espécie de moche... tipo aquelas coisas que o pessoal faz no festival da música alta de Brenha. É um tremor de terra que vai no bucho dos "sambeiros". E a água que vá dentro do papo deve causar cá uns tsunamis...

Enfim, alegria, folia, dança, música, sol... o que é que se quer mais? Vinho, cerveja, "tramoços e minuins", umas moelas, uns pica-paus, uns caracóis, umas fanecas fritas. Fanecas foi o que não faltou a desfilar na marginal...

À noite lá me convenceram a ver o Sporting... e o segundo golo??? Frangalhada, Deus meu! Ainda dizia o comentador quando aquele guarda-redes entrou:

"Este guarda-redes sempre foi assim rechonchudo... Sempre teve tendência para ser assim gordito!"

Digam-me lá, isto são comentários que se façam? Ao menos que dissesse logo que o guarda-redes era um pote de banha, balofo! Um batoque, vá... Agora estar a chamar rechonchudo e gordito... Isso sim, é gozar com o homem!

Enfim, a ver se bebo mais uns copitos... não fui à festa do samba do Coliseu, por cá fiquei com o meu amigo tinto...

Boa noite!

19 de julho de 2007

Benfica cor-de-rosa

Antes de mais, os únicos clubes que eu tenho são todos aqueles que pertencem ao Concelho da Figueira da Foz. Isso que fique bem claro!

Só agora é que aqui o Zé viu o vídeo do Ricardo Araújo Pereira a falar sobre o equipamento alternativo do Benfica. Mas enfim, ele fala agora disso com um brilho nos olhos mas está a esquecer-se do sketch que fez a gozar com os coletes reflectores cor-de-rosa que os automobilistas utilizam quando vão na estrada. Lá porque o ofício do homem é fazer rir as pessoas não quer dizer que seja bonito cair em contradição. Tudo bem que o equipamento do Benfica não se topa a 200 metros de distância (como o colete reflector), mas não lhe fica bem contradizer-se.
O pior do equipamento alternativo do SLB é que as camisolas parece que eram brancas e que depois de irem à máquina de lavar roupa ficaram tingidas, talvez por irem misturadas com umas cuecas vermelhas.

Eu não sou vidente, nem tenho uma bola de cristal... A única coisa mais valiosa que eu tenho deve ser a placa de platina que tenho na omoplata, ou então o chumbo que tenho nos poucos dentes que me restam. Com este chumbo ainda se fazia meia dúzia de soldadinhos.

Mas pronto, não vejo o futuro, mas acho que o Benfica vai sofrer menos faltas e ver menos cartões amarelos e vermelhos durante os jogos. Eu explico: como os adversários são uns cavalheiros, não vão querer magoar as "papoilas saltitantes" (papoilas cor-de-rosa?). O máximo que pode acontecer aos jogadores do "Glorioso" é levarem umas apalpadelas no rabiosque. Os árbitros vão ter medo de mostrar cartões amarelos e vermelhos porque não vão querer ofender os jogadores.

O Fernando Santos também vai ter o problema de gritar para dentro de campo, porque os jogadores podem ficar sensíveis. As faltas do Petit é que vão parecer mais carinhosas, com o cor-de-rosa à mistura. Mas o Benfica vai passar a ganhar mais jogos porque os guarda-redes adversários vão ser uns queridos e vão deixar entrar alguns remates. Problemas vão ter os capitães das equipas adversárias, não vá alguém lembrar-se de fazer galhardetes cor-de-rosa para trocar antes do início dos jogos.
Enfim, resumindo e concluindo, o Benfica vai ficar muito, mas muito mais forte com a introdução deste novo equipamento. Cuidado com eles!

Mas palavrões são coisas que não vão poder ser ditas, porque um "carvalho", uma "lerda", ou um "filho da luta" não vão condizer com a cor do equipamento. Mas é o que eu digo, este cor-de-rosa é muito deslavado, parece a cor do algodão doce de morango. Se queriam um cor-de-rosa a sério, seria melhor terem ido tirar ideias ao estúdio das "Tardes da Júlia".

Ah, mas lá numa coisa o Ricardo Araújo Pereira tem razão: "vai ser um acréscimo de humilhação para os adversários porque vão ter de ir para os balneários a dizer que perderam com uns gajos vestidos de cor-de-rosa".

Mas enfim, o cavalheirismo acima de tudo!

Durmam bem, e sonhos cor-de-rosa!

Aqui fica o sketch do colete cor-de-rosa e o vídeo alusivo ao equipamento do SLB



17 de julho de 2007

Meme dos Livros - o Desafio

O nosso caro amigo Paulo Dâmaso, Confrade-mor das Bifanas, da respectiva Confraria das Bifanas, desafiou aqui o Zé a responder a um desafio. Desafiou com um desafio. Boa! Primeiro vou deixar aqui as regras do desafio, para que não haja confusões:
Pegar no livro mais próximo. Abri-lo na pág.161. Procurar a 5ª frase completa. Colocar a frase no blog. Não vale usar o melhor livro que têm, usem o mais próximo. Passar o desafio a cinco pessoas. Queremos saber o que guardam perto do PC
Quando vi que tinha sido desafiado vim até à Biblioteca Municipal para ter livros com fartura. E esta mesinha para pousar o computador vem mesmo a calhar. Só que reina aqui um silêncio... que me está a ensurdecer! Em Buarcos seria impossível haver uma Biblioteca destas.
Enfim, o primeiro livro que eu vi quando cá cheguei foi (e preparem-se para o dizer sem respirarem) o "Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse - Selecções".
Ora então, página 161... 5.ª frase completa. Esperem lá, em vez de dizer frases posso dizer a definição da 5.ª palavra que aqui está! Tem mais lógica!
BÚTIO - s.m. Tudo que fornece ar aos mineiros e comunica entre si os poços de uma mina. / Ave de rapina da família dos falconídeos, que se alimenta de répteis, roedores e pequenas aves.
Gostaram?
Eu era para utilizar a Dica da Semana, das lojas Lidl, que anda sempre no meu bolso de trás, não vá ser preciso escangalhar-me a rir com as anedotas hilariantes que lá vêm. O problema é que a Dica da Semana não tem a página 161.
Bútio é mais giro. Só para verem as 4 palavras que antecedem o raio do bútio... São elas: Buteno, Butileno, Butílico, Butim.
A seguir há-de vir o Butt...

16 de julho de 2007

Sem-abrigo por um dia

Eh 'migos, não é que na noite de ontem, chuvosa que foi, fiquei desalojado? Mal comecei a sentir os pingos, estava eu deitado lá no topo do Castelo de Buarcos, galguei as pedras da Torre a uma velocidade estonteante, desci Buarcos até à Muralha e só parei no arco da mesma, sítio onde durmo no Inverno e em noites chuvosas. Aquela ideia da escada em caracol foi abortada, no que toca a descer. Para descer é mais fácil um varão do quartel dos bombeiros. A ver se instalo lá um mastro de bandeiras. Um ou dois, que o Castelo ainda é alto...

Ainda dizem que "a descer todos os Santos ajudam". Ajudam o catano, é que ajudam. Ajudam no fim da descida, quando não é preciso descer mais. Mas 'perem lá... ajudam tipo quê? Dão um empurrãozinho, para descermos mais rápido, para aumentar a probabilidade de cairmos de trombas no chão e ficarmos sem os dentes da frente, ficando, assim, sem dentes para palitar? 'Tá bem, Chico, ajudas dessas também o álcool me dá! Amigos da onça! Nem a mim, que sou José Maria das Almas dos Santos do Conhame, as santidades ajudam... Só nos ajudam quando já 'tamos engessados numa cama da ala da ortopedia do hospital. Ajudam na recuperação, e mesmo assim é doloroso. Mas às vezes sabe bem partir uma pernita, um bracito, uma bacia, umas costelas. É da maneira que vou parar ao hospital e durmo numa cama por uns dias. E sempre dá para pedir às enfermeiras para verem se está mesmo tudo bem comigo, não vá eu ter partido aquela minha terceira perna que não chega ao chão.

Mas com o hospital na margem Sul é difícil ir lá mais vezes. Quando o hospital era do lado de cá do Mondego ainda dava para ir a pé até lá às redondezas, mais rapidamente, e partir um ossito ali pertinho. Dantes é que era.

Ah, mas pronto, cheguei ao Arco da Muralha e encontrei lá um casalinho de jovens a namoriscarem, aproveitando para se abrigarem da chuva. Eu lá os deixei ficar, mas também fiquei sem sítio para dormir. Não é que eles rejeitaram uma relação a três? E arranjar sítio para bater uma sorna, depois disso? É que aqui o Zé não se contenta com qualquer coisita. Ou Castelos ou Muralhas, eu cá sou fino. Ainda pensei em ir pró Fortim de Palheiros, mas não compensava ir para lá porque não tinha cobertura para me proteger da chuva.

Enfim, mas peguei no Pirolito, que costuma dormir amarrado ao poste de iluminação nocturna ao pé do Castelo, e fui com ele até ao Hospital Veterinário do Monte Alto, que está aberto 24 horas por dia. Lá inventei uns sintomas de má disposição pró cão e fiquei lá o resto da noite na receção. O cão nem precisava que eu inventasse sintomas, porque só o aspecto dele é uma doença. Não levantaram muitas ondas por eu ter ficado lá. Também me devem ter achado um granda animal e acharam que um Hospital Veterinário era o sítio ideal para mim. Eu bem reparei no médico dos animais a olhar com muita atenção prós meus olhos, pró meu cabelo, prós arranhões que tinha feito quando desci o Castelo à pressa...

Enfim, foi uma noite bem passada, em tronco nu e em cuecas porque deixei o resto da roupa nas costas da cadeira, a ver se enxugava. Mas não enxugou e de manhã tive de ir procurar casas de banho de cafés que tivessem secador para as mãos...

Noite santa, afinal os santos até ajudam, mas lá está: num hospital...

15 de julho de 2007

Zé do Conhame - Arrendam-se quartos/rooms/chambres/zimmers

Pois é 'migos, 'migas, primos e primas, aqui o Zé do Conhame virou empresário e negociante altamente reconhecido no Condado Conhamense e na Vila de Buarcos. Ia eu a passar na Rua Direita e vi uma placa que dizia "Arrendam-se quartos/rooms/chambres/zimmers".

Ao ver o panorama, pensei eu: "Epá, tu queres ver onde é que vai parar esta placa? 'Pera lá que já cospes!". Olhei para um lado, olhei pro outro e pimbas, dei o banhanço à placa e fui com ela até à marginal, onde me sentei no muro com a placa ao lado, bem visível para quem passasse ali. Nos entretantos pedi uma caneta no Turismo e acrescentei à placa a palavra "PRÉ-PAGAMENTO". Pois bem, pelo caminho pedi ao Chico da Bezurra um boné e uns óculos escuros. Perfeito, lá 'tava eu muito bem disfarçado sentado ao pé da passadeira da praia, em pleno passeio da marginal, com a placa exposta ao público.

Lá se aproximou um casal que vinha de uma terra para os lados de trás do sol posto, no cú do Judas, onde o Judas perdeu as botas e onde o Judas cagou no deserto (bendito Judas, que tem mais expressões do que o Deus me livre) e levei-lhes 5 contos pelo primeiro dia de dormida na primeira morada que me veio à cabeça: uma tal de Viela das Muralhas de Buarcos, n.º 27, 1.º andar. 5 contos já cá cantavam e deixei um número de telemóvel aos senhores para eles telefonarem em caso de confusão. Pois bem, burros que doíam para terem engolido aquela história toda. Nem eu, estúpido que sou (só às vezes), acreditaria numa coisa daquelas de pré-pagamento, até porque não teria dinheiro que chegasse para um pós-pagamento, quanto mais para um pré. Só jogo uma chave por semana no Totoloto e prontos, com as receitas de tocar pífaro com uma mão à porta do Mercado. É o que dá as pessoas virem à civilização, a este tão belo Buarcos. Ficam embaladas com qualquer pessoa de bom aspecto que lhes apareça à frente. Ainda por cima um galã como aqui o je, um autêntico Zézé Conhaminha, um ícone respeitável do jétecassséte de Buarcos.

Os fregueses a seguir tinham aspecto de uma lagosta ou sapateira acabadinha de sair de uma panela de cozinha de uma marisqueira, mas afinal de contas tinham saído de um carro de matrícula um bocado esquisita e que dizia "FR". Pensei eu: "FR??? Freixo-de-espada-à-cinta?". Afinal era França, percebi pelo sotaque com que falavam depois de sairem da voáture. Sim, porque o filho do Berto da Zurrapa 'teve emigrado em França e veio de lá com um sotaque parecido com aquele. Lá lhes disse: "Enton muito bonnes tardes, mês amigôs, querem un quartinhe para descansê? Isse 'tá mau... eston mais vermelhôs do que o náriz du Schmeichel quandô jôgává nu Sportinguê, pá!"

Nem resposta me deram, nem à la mérdelince me mandaram, pelos vistos o meu francês é demasiado bom para ser correspondido. Mas desdenharam... mas queriam comprar, lá isso queriam! Mas o sítio dos franceses não é em casas arrendadas ao pé das muralhas, é na Tamargueira ou então em casas próprias.

A seguir aparece-me uma torre de dois metros, loirinho, olhinho azul dos dois lados, umas sandálias e um ar carrancudo tipo Oliver Kahn. Eu bem vi as trombas do gajo quando no Mundial de futebol de 2006 perdeu a titularidade pro Lehmann. Topei logo o gajo, alemãozinho! Um alimão em Buarcos? Para quê? Para sair de cá a cambalear e a queixar-se de que a cerveja portuguesa é muito forte? Pudera! Como é que ele acha que nós batemos recordes de barriga e de pelo no peito? É com cervejinha de lavar copos? Claro que não! A cerveja portuguesa é para enrijar, para ganhar calo nas paredes do estômago!

Veio o alemão falar comigo: "Guttën tag da gluta inz du schwarz da kinna purr cvino stuntz fritz?". Eu só tive tempo de parar o ataque cardíaco do gajo com uma palmada nas costas dele e um: "Santinho, pá! Essa tosse 'tá má, pá! Xarope de cenoura é capaz de fazer bem, vá ali à Ti Aurora do Balela para lhe tirar o catarro!"

Mas o raça do 'tchopo continuou:

"Al gunna grrute nal serr dacki?"

- Oh cámóne, se há alguma gruta na serra daqui? Epá, que eu saiba não, mas um quartito é melhor do que uma gruta, santo Deus!

"Ahh, grratzie, grratzie!"

Entretantos lembrei-me de tirar d algibeira um daqueles pacotitos espalmados do ICE TEA da Lidl e comecei a ler o rótulo em alemão: "Eistee pfirsich? ahhh, zutatem teegetrank mit zucker nach offnen gekuhlt vor gebrauch siehe mindestens haltbar citronensaure extrakt!"

O chavaleco ficou a olhar para mim, olho pro meu fiel amigo Pirolito, riu-se e foi-se embora. Eu é que não achei piada nenhuma. Um gajo a esforçar-se por ler a porcaria dos rótulos dos sumos que eles para cá mandam e ainda me lançou aquele sorriso maléfico! Ah, macacos me mordam se eu não me vingo dos alemães. Aquela vitória deles no jogo do 3.º e 4.º lugar do Mundial 2006 ainda 'tá atravessada aqui na gargantonha do Zé, aí 'tá, 'tá!

Desisti do meu emprego como negociante de quartos. Nem eu tenho um quartito e ando aí a arrendar aos outros. Mas eu tenho um Castelo e eles não! Tenho uma torre, pá! Uma torre e uma muralha! Toma lá e embrulha, oh alemão!

14 de julho de 2007

7 maravilhas do meu mundo

Aqui estou para responder ao desafio da Vanessa, autora do blogue There Is A Word, que propôs que fizesse a divulgação das 7 maravilhas do meu mundo.

Ora então vou apregoá-las todinhas, uma por uma:

1 - o Pirolito, o meu canito pulguento que no Inverno me aquece os pés, quando durmo no Arco da Muralha de Buarcos. Na minha residência de Verão, o Castelo de Buarcos, não consigo levar o cão lá para cima, porque não dá muito jeito ir com ele ao colo

2 - o Castelo de Buarcos, o meu lar do Estio. Comigo é tudo em grande, só falta irem lá os senhores da PT passarem o cabo do telefone para eu ligar a internet no meu portátil. Electricidade já tenho, liguei uma catrefada de extensões para chegar lá acima

3 - Muralha de Buarcos, residência de Inverno. E a quantidade de ofertas que lá me deixam? As pessoas são mesmo generosas: aquilo é dejectos do intestino e da bexiga, aquilo é seringas, aquilo é preservativos. Enfim, dão-me mais a mim do que ó fisco

4 - os balneários da praia, que me dão um jeitaço quando 'tou apertadinho para ir à retrete

5 - a Estátua da Peixeira, que já ando a tentar engatá-la há anos e anos e anos e ela não me responde. Ficou petrificada com o meu charme, é que só pode. De quando em vez lá me ponho a namorar com a cachopa - um beijito na bochecha, uma mãozita na saia. Mas mai lindo, mai lindo, só o poema que lá 'ta numa pedra. Só lá não 'tá a minha carta de amor que lhe escrevi há tanto ano...

6 - a Estátua do Pescador, que há tanto ano que está curvado. Até me doem as costas, só de olhar pra ele. Mas que me vai dando uns peixitos pró jantar, o nobre homem. E como eu tenho medo do mar, aproveito e vou chapinhar pró lago que ele tem lá à volta

7 - todos os meus primos, primas, 'migos, 'migas, 'tchopos e 'tchopas, pois sem eles Buarcos não faria sentido de existir, nem a minha existência teria razão de ser

Tenho dito!

13 de julho de 2007

Zé do Conhame - o Buarcos social

Oh 'migos e 'migas, primos e primas, vamos lá esclarecer uma coisa: quer vocês queiram, quer não, vocês são todos meus primos e primas ou 'migos e 'migas, pruque em Buarcos não há cá misturas: ou se é 'migo/'miga ou se é primo/prima. Lá no tempos dos faraós do Egiptrio das Pirâmidas havia aquelas hierarquias sociais. Pois cá em Buarcos acontece a mesmíssima coisa: há os primos e as primas, tudo sangue do mesmo sangue e há os 'migos e 'migas, tudo carne com unha e unha com carne. Depois também podem haver os cachopos e cachopas - o mesmo é dizer 'tchopos e 'tchopas, que são os catraios mais novos. Depois há as Celestes, as Sãos (ou Sões), as Rosas, os Manéis (ou Manueles), os Zés (como eu), os Quins, os Joãos (ou Joões) e os Tós (ou Tozes).

Dentro da faixa dos primos/primas, 'migos/'migas e 'tchopos/'tchopas é que se encontram as Celestes, as Sãos/Sões, as Rosas, os Manéis/Manueles, os Zés, os Quins, os Joãos/Joões e os Tós/Tozes, ou seja, os primos/primas, 'migos/'migas e 'tchopos/'tchopas são grupos principais que se subdividem em grupos secundários.

Claro que depois cada família tem uma alcunha que passa de geração em geração, tipo segredo de culinária secular, ou jóias de família, ou até mesmo como os álbuns de fotografias. Normalmente, em cada família genuína buarcosense há-de haver sempre alguém, vivo ou morto, que:

- foi à 1.ª Guerra Mundial;
- foi à pesca do bacalhau nos mares do Norte;
- foi à Guerra Colonial;
- tem uma tatuagem do "Amor de Mãe";
- tem uma cana de pesca na garagem, mesmo que nunca tenha sido usada;
- tem uma casa com azulejos ou mosaicos de casa de banho nas paredes exteriores de casa;
- tem um cão rafeiro preso no quintal, com uma corrente de ferro de metro e meio, há mais de 10 anos; - tem as paredes exteriores da casa pintadas com uma cor bem fatela;
- tem molduras nas paredes da sala de estar e jantar com certificados de participação em excursões de autocarro a todos os sítios possíveis e imagináveis;
- tem o hábito de ir para os largos conspirar contra tudo e todos com os amigos;
- tem álbuns de fotografias e recortes de jornal do Rancho das Cantarinhas de Buarcos (um dos melhores ranchos folclóricos que existem, agora fora de brincadeiras);
- tem os troféus dos torneios de pesca do Caras Direitas e da Rádio Clube Foz do Mondego expostos em local privilegiado da sua casa;
- tem o hábito de pôr cunhas debaixo das portas, mesmo que não estejam lá a fazer nada;
- tem um automóvel da década de 80 ou do início da década de 90 (século XX) guardado na garagem e que só sai de casa uma vez por mês para ir ao supermercado fazer as compras mensais;
- só vai à igreja para ir a funerais;
- só sai de um raio de 200 metros do exterior da sua casa quando necessita de ir ao centro de saúde, visitar alguém ao lar ou fazer alguma coisa que não esteja acessível no tal raio de acção;
- tem casas ou quartos para arrendar aos banhistas, no Verão;
- só vê, somente, apenas, exclusivamente, o canal 1 da RTP, especialmente a Praça da Alegria, os telejornais, a novela da hora a seguir ao almoço e os concursos onde acham piada aos que lá vão ganhar dinheiro;
- almoça ao meio-dia e janta às 7 da tarde;
- que é sócio do Caras Direitas ou da União Foot-ball de Buarcos;

Caro leitor, como pode ver não é fácil ser-se buarcosense. Eu cá já só tenho primas, primos, 'migos, 'migos, 'tchopos e 'tchopos. O meu pai morreu na Guerra Colonial, a minha mãe morreu de desgosto de eu não ter uma tatuagem do amor de mãe. Sentiu-se traída. Portantos, sou órfão total. Ainda consta que tenho um irmão, mas isso deve ser boato, pruque se eu tivesse irmãos já os tinha topado pelo cheiro. Tios, tias, avós, padrinhos, madrinhas não tenho, porque em Buarcos só há primos e primas.

Portantos, resta-me o Pirolito, o meu fiel e viril ser canino que ainda vai sendo o meu sustento, quando consegue roubar uns peixitos do mercado e uns restos de carne no Talho. De resto, ainda vou jogando o Totoloto. Sempre dá jeito saber tocar pífaro - ponho-me a tocar à porta do Mercado, só cuma mão, enfio um braço pra dentro da camisa, toco umas rapsódias bem esgalhadas e farto-me de ganhar moedas. O pessoal gosta mesmo, ou então dá-me aquilo para eu tar calado. Ou então é porque gostam do canito, que fica lá ao meu lado com o cestito para as moedas na boca.

Vá, fica um abraço para vocemecês todos, meus caros visitantes e agora vou até à Junta ver se chegou alguma carta aqui pró Alcaide-mor!

12 de julho de 2007

Zé do Conhame - a primeira declaração pública

1, 2, 3, SOM! SOM! EXPERIÊNCIA! ALÔ! SOM! SOM... DAQUI CENTRAL MIRA... DIGA SE ME OUVE, ESCUTO!

Então muito boa dia, boa tarde ou boa noite, 'migos e 'migas, primos e primas! Daqui fala o Zé do Conhame. Có-nhame, é assim que se lê: Có-nhame. Não venham cá com misturadas, porque Conhame não é Cunhame nem Conháme: é Có-nhame, mas tudo junto. Entendido? Ainda bem!

Ora então, vou contar-vos a razão de eu agora ter um blogue, coisa que parece que é moderna e é da moda. Ia eu mais o meu 'migo Pirolito, o meu ser canino de guarda, que é um belo exemplar da raça Dog Street, da variante Rafa das Muralhas... onde é que eu ia? Ah, ia eu e mais o cão a passearmos e deparamos-nos com um belo serviço logo ali ó pé do Largo da Má Língua, como quem vem do Talho da Rosa para o Largo da Varina - vimos um catraio dos seus vintes e alguns anos sentado na esplanada dum ristórante de cólidade do Conhame. No Conhame tudo é bom, desde a trampa mais mal cheirosa aos sprays que as senhoras usam para cheirarem bem, até aos dotes da bisca dos jogadores das cartas das traseiras da Capela da Senhora da Conceição.

Lá 'tou a desviar o assunto. Realmente falar é fácil, escrever é que é do catano, porque eu tenho a 4.ª classe. A primeira e a segunda foram feitas na Escola do Serrado, a terceira foi feita na Escola do Castelo e a quarta foi feita pelos cupões da Farinha Maizena. Voltando ao assunto, vi o tal rapaz no ristórante com uma coisa a que ele chamou computador portátil com acesso uairelésse à internéte, que deve ser alguma variante do Intermarché da Chã. O rapaz 'tava lá em amena cavaqueira de volta duma coisa que era o blogue dele. Eu olhei para aquilo e não me fiquei. Vai daí e fui ó Banco pedir um empréstimo para comprar uma traquitana daquelas para também eu poder ter um blogue. O engravatadinho do balcão não me queria dar o empréstimo mas eu prometi-lhe peixe à borla até ao resto da vida e ele lá acedeu e emprestou-me 200 contos para eu ir comprar um computador.

Lá fui eu pelo Alto do Forno acima e só parei nos Condados de Buarcos, no Jûmbio, porque me disseram que lá vendiam computadores às prestações. Eu ainda pensei que me fossem vender o computador ós bocados mas afinal o preço é que é pago ós bocados. Mas eu preferi pagar tudo de uma vez antes que depois fosse estoirar o carcanhol todo prá Tasca da Rua Direita. Lá vim eu com a jeringonça debaixo do braço, fui ter com o fulaninho à esplanada do ristórante e ele criou-me um blogue e agora eu escrevo aqui o que eu quiser, dentro dos limites de não ofender ninguém, ficou assim prometido.

Portantos, é só para informar a navegação de que o Zé do Conhame tem um blogue. Agora só me falta arranjar um quartito arrendado, para poder desmontar arraiais do cimo do Castelo de Buarcos, local onde tenho dormido os últimos meses, pruque é um sítio sossegadinho e de lá vejo tudo. Também me vejo grego para subir e descer a Torre, mas o meu amigo Quim, que é pedreiro de ofício já me prometeu que me vai lá fazer umas escadas em caracol, para aquilo ficar com mais pinta.

Enfins, se quiserem enviar-me um meile, que é uma coisa muito gira pruque diz que é correio electrotécnico, podem fazê-lo através do contacto zedoconhame@gmail.com. Se quiserem escrever-me em manuscrito façam-no para a morada da Junta de Freguesia de Buarcos, ao cuidado do Alcaide-mor da mui Nobre e Ilustre Vila de Buarcos e Governador do Condado do Conhame, e assim é garantido que a carta vem parar às minhas mãos, ou não fosse eu um gajo de sangue azul, derivado de ter bebido ontem um detergente da louça que me soube pela vida. Agora arroto bolinhas de sabão e as bufas saem com um cheiro parecido a WC Pato.

Sódações conhamenses, buarcosenses e muitas félcidades para si e prós seus, que bem merecem, porque eu sei, eu tenho olho para essas coisas!

Bilhete de Identidade

REPÚBLICA DA VILA DE BUARCOS E DO CONDADO DO CONHAME
(République de la Villa de Buarcos et de le Condat de Conhame - The Republic of the Village of Buarcos and of the Condate of Conhame)
BILHETE DE IDENTIDADE
DE
CIDADÃO NACIONAL
CARTE D'IDENTITÉ
DE
CITOYEN NATIONAL
IDENTIFY CARD
OF
NATIONAL CITIZEN
José Maria das Almas dos Santos do Conhame
ASSINATURA DO PORTADOR (SIGNATURE DU PORTADOUR - SIGNATURE OF PORTATOR)
_____________
_____________________________________
N.º
11-23-37-39-42-47 (chave semanal do Totoloto, jogado todas as santas quintas-feiras no Quiosque do Choco)
EMISSÃO (EMISSIONNE / EMISSION)
31/02/2008 * CONHAME
NOME (NOM / NAME)
JOSÉ MARIA DAS ALMAS DOS SANTOS DO CONHAME
PAIS (PARENTS)
JOSÉ MANUEL ANUNCIAÇÃO DOS SANTOS DO CONHAME * MARIA DAS SENHORAS DA ENCARNAÇÃO E CONCEIÇÃO DAS ALMAS
NATURALIDADE (NATURALITÈ/ NATURALITATE)
MURALHA DE BUARCOS * FIGUEIRA DA FOZ
RESIDÊNCIA (RÉSIDENCE / RESIDENCE)
ARCO DA MURALHA DE BUARCOS DE INVERNO / CASTELO DE BUARCOS NO VERÃO * BUARCOS
DATA DE NASCIMENTO (DATE DE NASCEMENT/ DATE OF NASCIMENTING)
30 DE FEVEREIRO DE MIL NOVECENTOS E TROCA O PASSO
ESTADO CÍVIL (ÉTAT CIVIL / CIVIL STATE)
BÊBEDO À NOITE, DE RESSACA DURANTE O DIA
ALTURA (ALTURE / ALTURATE)
DEPENDE DAS XANATAS
VALIDADE (VALIDITÉ / VALIDATE)
E DURA, E DURA, E DURA, E DURA...